Esteticomania e gordofobia
Marcia acredita que o corpo é visto como uma religião. E, como em toda
religião, o sacrifício é valorizado. “Por isso, uma mulher que não faça dieta é
vista como ‘desleixada’. Se ela não se sacrifica, é como se fosse infiel. A
gordura é vista como excesso. O sacrifício, seja na academia ou para fazer
dietas bizarras, é muito valorizado. Se você não faz esse sacrifício, é visto
como um ser menor.”
O problema é que ser chamada de gorda continua sendo um insulto. E
daqueles. “Não sei te dizer quantas vezes por dia sou xingada na internet”,
conta Lola Aronovich, autora do blog Escreva Lola Escreva. “E, quando querem me
ofender, o que eles escrevem? Escrevem que sou horrorosa e gorda.” O
preconceito físico é um dos assuntos preferidos de Lola, uma professora
universitária especialista em literatura inglesa que também já foi sugada pela
paranoia dos regimes. “Tomei inibidores de apetite dos 22 aos 29 anos, entrava
e saía de regime e não conseguia emagrecer.” Hoje, ela não sabe quanto veste e
dedica parte do seu tempo a estudar o tema. “Se eu, que tenho 45 anos, me sinto
oprimida, imagina uma adolescente? Recebo cartas de meninas que se sentem
cobradas e excluídas por não terem o corpo que imaginam ser o ideal.”
Para Marcia Tiburi, esse olhar cheio de crueldade – e com uma fita
métrica embutida – sobre o corpo feminino é uma espécie de negação da vida. “É
como se o corpo da mulher fosse visto com os óculos de alguém que vai medir um
caixão. Parece pesado falar isso, mas as pessoas julgam o corpo por uma
medição”, explica. “Como um vendedor de caixão que quer saber ‘se esse corpo
cabe’ naquela caixa. É um corpo cadáver, então, já que só se valoriza o peso, o
tamanho. Dentro dessa esteticomania, a mulher valorizada é aquela que consegue
controlar o seu corpo. Um caixão é uma calça 38.”

Nenhum comentário:
Postar um comentário